A ilha esta vazia. Perdida em
algum lugar entre as brumas. Na minha memoria ou no fundo do mar? Não ouço pássaros ao longe, nem sussurros de
uma língua antiga casualmente trazidos pelo vento. E nem mesmo o vento
ruminando as folhas das arvores parece ainda habitar ali. Nem o perigo
espreitando as ruínas ancestrais. Não há luz nas casas, nem animais correndo
para a floresta densa, nem fantasmas no cemitério e nem archotes acessos no
castelo transbordando de luz a noite de incertezas. A névoa secou em sua fonte
e tudo agora é visível e desprovido de mistérios. Todos foram embora. O mistério
é entender o que os levou.
Fecho os olhos e parece que foi
há tanto tempo e ainda assim tão morno e acolhedor. Segunda infância. A menina
de olhos azuis, rasgados, de mãos dadas com a loura de semblante aéreo e o
menino de ar compenetrado. A bailarina rodopiando em volta do garoto sério de
cachecol vermelho. Outra garotinha que corre vinda da cozinha, o aroma de doces
quentes a seguindo. A menina ruiva que ri do garoto introvertido até que ele dê
risada também. Um velhote barbado, solitário em seu quarto, contemplando as águas
de mudança que chegariam, sem prerrogativas, a todos eles... O homem de terno,
na colina, sempre observador, guardião do mal e talvez do bem.
Vozes, cheiros, sons infantis.
Mistério, vultos, o inominável, o
inesperado.
Hoje. Silêncio.
Acho vestígios de outros
visitantes. Pegadas na areia cinza da praia gelada. Ainda frescos, mas já
ausentes. É surpreendente! Não surpreende! Todos foram embora, mas cada um deixou
uma parte de si, um pedaço seu que por vezes precisam rever, rememorar, sentir
o que se perdeu. Um dia teremos de volta esse pedaço que falta?
Reborn. Bring it on!
Só o eco repetindo minha voz ao
infinito.
O que antes era encontro, agora é
desencontro.
E saudade.
Não há risadas. A ilha esta
vazia.
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