CANÇÃO PARA MELUSINE - Parte V

Parte cinco do conto longo "Canção para Melusine"
Antes de ler este aqui é melhor começar pela parte I  Neste link , a parte II Neste link, a parte III Neste Link e a parte IV Neste Link.
Lorelei by Theatre of Tragedy on Grooveshark
V
Grandes corredores submersos. Colunas de pedra azulada. Chão coberto de aguas marinhas. Esqueletos descarnados, tão brancos, ocultos entre conchas e anêmonas, mexilhões acomodados entre costelas e caranguejos arranhando fêmures. Pequenos peixes comensais flutuando. Aguardando pelas sobras. Pedaços de cor no azul instável. Tão bonito e tão terrível. A menina serpente nadava, imprimia mais velocidade, ganhava os salões submersos da mansão da Foca. Não queria escutar os gritos. Queria estar longe quando a senhora aquática terminasse com o aquele pobre homem.   "Não é minha culpa, não é minha culpa" Ele repetia vez após vez e ainda assim não acreditava.
Ao longe um som indistinguível chegou aos ouvidos da garota. Era um grito ou era um urro? Os peixes continuavam sua dança tão devagar quanto era possível. Ela tapou os ouvidos com as mãos. Tinha começado.





CANÇÃO PARA MELUSINE - Parte IV

Parte quatro do conto longo "Canção para Melusine"
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- Com mil serpentes marinhas, Moe! Deixa um trago para mim, caralho! - O magrelo sujo gritava para o anão que virava a garrafa na boca. O liquido escorrendo pela barba mal feita. Um brutamonte ao lado do anão jogava pedras na agua escura. O trajeto da pedra formando círculos variados na superfície aquática.

- Você que já bebeu demais, Espaguete! Deixa o Moe. Amanhã a gente embarca no Arquiduquesa D'Armanteau e o capitão é osso duro. Precisamos embarcar os três, senão o plano não vai dar certo.- o brutamontes respondeu sem tirar os olhos do cachimbo que estava acendendo.

- E você acha mesmo que é possível roubar a "encomenda"?

O brutamonte levantou a cabeça. A luz do fosforo incidiu sobre a cicatriz que cortava o rosto dele de cima a baixo.

- Se não for possível roubar "a encomenda", roubamos todo o resto! - respondeu com um sorriso de dentes tortos e nascidos uns por cima dos outros. Nesse instante um barulho alto interrompeu a conversa. Parecia o som de um barril jogado ao mar. Os três homens olharam para a água. Era noite, pouco viram. O brutamonte voltou a sentar-se. Moe voltou a beber. Espaguete continuava a olhar para a água, intrigado.







CANÇÃO PARA MELUSINE - Parte III

Parte Dois do conto longo "Canção para Melusine"
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III
Azul. Todos os tons de azul e bolhas. A menina queria rir, mas tapava a boca com a mão. E se entrasse agua e ela se afogasse? A foca assinalou que ela não precisava ter medo e fez com que ela soltasse ambas as mãos para nadar. Assim era mais rápido. A foca tinha pressa e a menina respirava miraculosamente na água azul e salgada. Um cardume de peixes coloridos. Uma arraia gigantesca. Uma anêmona dançando solitária e um peixinho verde que se aproximava para beija-la. Tinha tanto para ver, mas a foca puxava a menina mais e mais. E a menina começou a se cansar. Quis parar. Quis voltar, mas a foca insistia em continuar nadando.
E no meio daquele azul a menina sentiu algo que a puxava. Era um buraco redondo no fundo do mar, na areia. Era um ralo puxando a água. A foca nadou para ele e sumiu. A menina quis aproveitar para voltar. Algo não estava certo e agora ela sentia isso. Nadou na direção contraria, mas quanto mais tentava, mais próximo ficava do ralo. Por fim foi sugada e caiu contra uma roseira. Sua carne salpicada de pequenos pontos vermelhos. Bolinhas vermelhas em um fundo claro. Ela gemeu e choramingou. Então ficou quieta. A dois passos a frentes estava aquela mulher. Jamais esqueceria o que sentiu quando viu a criatura em sua forma humana pela primeira vez. Era como contemplar o inferno e o céu ao mesmo tempo. As gotas de água brotando e escorrendo ao longo da pele bronzeada. Os cabelos úmidos escorrendo lisos pelas costas nuas. O vestido de pele colado em toda a extensão do corpo longilíneo, formando um círculo no chão e ninguém saberia dizer onde terminava a pele humana e onde começava a pele de foca. E os olhos redondos, duas esferas inteiramente negras. A criatura sorria.




CINCO MINUTINHOS





Acordou em crise existencial: chocar o mundo ou viver um grande amor?

Optou por dormir mais cinco minutinhos.




CANÇÃO PARA MELUSINE - Parte II

Parte Dois do conto longo "Canção para Melusine"
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II
Into Dust by Mazzy Star on Grooveshark

Os sapatos! Os sapatos na areia! Amélia correu para as ondas, gritando, procurando. O nome da menina ecoava na praia desértica. A luminosidade do sol e da lua se mesclando naquele momento em que já não é dia, mas também ainda não é noite. Ela era boa nadadora e o mar estava estranhamente plácido, mesmo assim não encontrou nada que pudesse contar que sua filha entrara naquelas aguas. Dela restavam apenas os sapatinhos brancos esquecidos na areia.